Poemas férias Cacela Agosto 2011
Entre contar e cantar
No mar
me sinto regressar
ao essencial
de ser
sem peso
sem tempo
sem lugar
no útero
primordial
de antes
de nascer
de antes
de ser
palavras
Que os versos
borbulhem
em alfabeto
morse
Perdão
por esta escrita
já tradução
isto é
traição
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Voltar
de uma manhã
de praia
sem conchas
é triste
como acabar
o dia
sem poesia
Versos ou conchas
tudo pétalas
do efémero
mandalas
a um deus
sem nome
Vida
talvez
se chame
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Perder
no seio
do mar
o peso
de existir
“o triste hábito
de ser alguém”
diria Borges
os braços
e as pernas
feitos asas
anfíbias
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Dentro
do mar
aprender
a perder
até
a vida
a aceitar
o acabar
de tudo
até morrer
(desde que não
faça doer)
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Podia gabar
o branco
nenúfar
do silêncio
para te oferecer
mas prefiro
cantar
a múrmura
anémona
do mar
de inúmeras
pétalas
rescendentes
e dá-la
a não sei quem
inominável
mandala
ilimitada
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Como pude passar
tanto tempo longe
de ti
do teu cheiro
do teu abraço
de corpo inteiro
deste morrer
de ser só
eu
pra renascer
mais viva
em ti
meu amado
mar
de toda a vida
meu único
amor
nunca esquecido
que nunca me esqueceste
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Sempre que
nos reencontramos
balbucio que não sou
nada
sem ti
juro que nunca mais
nos perderemos
de vista
e de contacto
que nunca mais
estarei tão longe
tanto tempo
que nunca mais
te trairei
com o baixo
quotidiano
que mudarei
de vida
para sempre
te ter
ao alcance
do olhar
e do corpo
meu bem amado
mar
sei que de ti
venho
e para ti
quero voltar
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O mar reintegra
tudo
em seu redor
em seu amplo
seio
e no fluxo
e refluxo
do tempo
restitui
à praia
seus achados
com sua marca
impressa:
de um caco
de barro
fez um roliço
coração
e nele
me escreveu
uma mensagem
em escrita
cuneiforme
linguagem
talvez
dos peixes
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Murmurava
ontem
nos teus braços
uma declaração
de amor
mais uma
“É sempre bom
mas nunca tanto
como hoje”
E neles fiquei
esquecida
toda a manhã
Percebi hoje
que era
uma despedida
Para onde
foste
que hoje
não eras tu
Bateste-me
mais
do que te
deste
Que máscara
puseste
que vieste
tão outro
só raivas
de espuma
e altas vagas
Bebeste ou
Endoideceste?
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