Desabitada durante mais de um mês
a casa
estava tristonha e ressentida.
Nem me deu as boas-vindas.
Precisei instalar em cima da mesa onde começo e acabo
o dia as rosas trazidas de Cacela para ela olhar para mim.
Não são lindas?!
disse-lhe
E cheiram tão bem! Não são
como essas rosas de aviário que aqui na cidade nos oferecem!
Havias de conhecer a minha roseira de Cacela
que enquanto
lá estou se desentranha em rosas!
Mas a minha pobre casa
continua de cara amarrada
tem ciúmes da outra que nunca viu.
Gostas mais dela do que de mim
queixa-se.
Não é verdade!
sossego-a.
Gosto de ti e dela
cada uma
no seu lugar. É contigo que passo quase todo o ano
com ela é só nas férias.
Como uma esposa ressentida
desdenha da outra:
No Inverno deve ser um gelo!
Concordo:
Tu és bem mais quentinha, não há dúvida!
Mas a verdade é que quando estás com ela nem pensas
em mim!
lamuria.
Claro que penso! Tu és a minha companheira de todas
as estações!
Com ela só estou no Verão! É em ti
que tenho criado os meus filhos as minhas flores
e os meus escritos desde há
faço contas
35 anos!
Reconciliada
mas não inteiramente desamuada
a minha casa abre finalmente o sorriso
para eu entrar.